sexta-feira, 19 de abril de 2013

Reflexão



Outro dia estava assistindo, num desses programas de TV, uma reportagem sobre os monges do Tibete, da Mongólia, do  Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos e em paz nos seus mantos cor de açafrão.

Algum tempo atrás, eu observava o movimento do Aeroporto Santos Dumont, A sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deveriam.  Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: "Qual dos dois modelos produz felicidade?”.

Estamos construindo super-homens e supermulheres totalmente equipados, mas emocionalmente  infantilizados. Li em um artigo que uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação a malhação do espírito.

Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: "Como estava o defunto?". "Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!" A publicidade não consegue vender felicidade, então passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: "Se tomar este refrigerante, vestir este  tênis,  usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!" O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo o condicionamento.

Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, constrói-se um Shopping Center. É curioso: a maioria dos shoppings centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca. Não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas. Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas.

Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Passar cheque pré-datado, pagar a crédito,  entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno. Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer. Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas:  "Estou apenas fazendo um passeio socrático". Diante de seus olhares espantados, explico: "Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas”. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia:  "Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz!”.

Pense nisto
Jorge Vieira

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